terça-feira, 23 de abril de 2019

O degredo ...alguns até hoje esperam o repatriamento!


Em Portugal, a pena do degredo era utilizada desde a Idade Média. Os condenados por algum crime podiam ser mandados para lugares mal povoados e zonas fronteiriças do País. 

Um destino muito visado era o Gharb al Andalus ( غرب الأندلس). Porém, com as "descobertas" portuguesas a partir do século 15, muitos foram condenados para serem mandados para Cabo Verde, Moçambique, Angola, Goa, Macau e para o Brasil. 

Os degredados eram "desajustados a  sociedade cristã", indesejados nas terras lusitanas, e eram exilados para possessões ultramarinas por um tempo determinado ou, em na maioria dos casos, indefinidamente... até hoje, cinco séculos depois.



A pena de degredo para o Brasil era considerada a pior penalidade que havia, apenas superada pela pena de morte, pois no imaginário dos habitantes de Portugal, por aqueles tempos, uns achavam que o Brasil uma espécie de Edem ou o próprio "gehinom" na Terra.

O degredo para o Brasil significava, além de partir para uma terra desconhecida e tida como perigosa, ter que enfrentar uma viagem oceânica torturante e a separação dos membros da família do "português". 

O medo do degredo era geral nos portugueses de segunda, tais como os mouriscos e o cristãos novos.

Povoar o Brasil na "marra" e, consequentemente, estabelecer o controle para o povo português cristão na região, foi uma tarefa muito difícil para digamos a Coroa Portuguesa. A corôa entrou com a sentença de degredo e nós entramos com nossas vidas.

Portugal tinha uma população muito pequena, e os portugueses não se atreviam a sair do conforto e se aventurar numa terra vista como perigosa.

Em virtude disso, o degredo foi usado por Portugal como uma forma de povoar a colônia.

Na carta de Pero Vaz de Caminha já havia o relato de degredados que ficaram na Terra da "Santa Cruz" logo após o descobrimento. 

Para muitos degredados ficar no Brasil, era a ultima tábua de salvação, pois no novo espaço português se mantinham longe da famigerada inquisição portuguesa.

No novo território português que nunca foi colônia, se integravam, e o povo da terra os acolhiam (aborígenes) e se uniam as suas filhas.

Nas décadas seguintes, Portugal continuou mandando degredados para a colônia chegando a mandar segundo alguns a cifra de 900.000 almas. 

A historiografia brasileira implantada nos camadas populares através de seus mestres costumam alardear que Portugal mandou para o Brasil a "escória" da sociedade portuguesa: prostitutas, assassinos, ladrões, judeus convertidos a força e e talvez alguns saloios.

E se afirma categoricamente que grande parte dos desmandos da sociedade brasileira são fruto desse tipo de povoamento que juntou portugueses "degenerados-judeus anusim", índios "imorais" e africanos "sexualizados", dando origem a uma sociedade sem moral e ética. 

Além disto ser uma afirmação falsa, esse tipo de alegação incetada de preconceitos incute na alma dos desterrados e escravizados uma baixa estima em relação a si mesmos e em relação aos seus antepassados.

Na realidade, os degredados eram pessoas que haviam sido criminalizadas e  condenadas para este fim. 

A maioria dos condenados receberam a pena de degredo  por "relatos" de terem condutas que, atualmente, seriam consideradas crimes leves ou nem ao menos seriam crime, como por pequenos furtos, promessas de casamento não cumpridas, vício em jogo, lesa-majestade, seduções, adultérios, sodomia, misticismo, "judaísmo e blasfêmias", entre outros do gênero.

Portanto, a maioria dos degredados não fazia parte da tal "escória" portuguesa, que muitos ainda acreditam que povoou o Brasil.

Tanto a Igreja como a Coroa Portuguesa acreditavam que, com o degredo era um meio de promover uma "limpeza" e  eliminar esses elementos indesejáveis da sociedade portuguesa, o degredo também foi usado como um estratagema da Coroa Portuguesa de povoar o Brasil e condutas, que hoje poderiam ser tidas como irrelevantes, eram penalizadas com o exílio.

O Portugal quinhentista não configurava uma sociedade homogênea. Ao lado da maioria cristã, havia importantes minorias muçulmanas, judaicas e ciganas.

Após a Reconquista Cristã, os mouros de Portugal já se encontravam como parte da cultura portuguesa e a sua assimilação dentro da sociedade portuguesa aconteceu sem maiores problemas.

Por outro lado, os judeus (e cristãos-novos) e os ciganos eram etnias que frequentemente foram hostilizadas e mesmo perseguidas em Portugal.

Essas duas etnias foram marginalizadas da sociedade portuguesa e muitos deles foram para o Brasil, seja de forma forçada (pelo degredo) ou voluntariamente(fuga).

Os judeus foram frequentemente hostilizados, proibidos de seguir sua religião e costumes e forçados a se converter ao cristianismo. 

Muitos deles eram acusados, por desafetos, de práticas judaizantes, ofensas à Igreja Católica e de fazer pactos demoníacos. Não era apenas a religiosidade mística, etnocêntrica e preconceituosa que levava a essa situação. Interesses econômicos também, uma vez que os judeus exerciam forte influência no comércio da Bahia e de Pernambuco. Foi apenas em 1773, por decisão pombalina, que se proibiu a distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos e no ano seguinte foi permitido o acesso de judeus e descendentes a cargos públicos e honrarias.

Os judeus chegaram à Península Ibérica antes do nascimento da divindade cristã - "Jesus Cristo" e os islâmicos a invadiram no ano de 711, deflagrando uma maciça imigração proveniente do al Magrebe, de mouros.

A América portuguesa se tornou um destino visado por esses judeus e cristãos-novos perseguidos. Se na Península Ibérica eles foram transformados em "bodes expiatórios", no Novo Mundo havia outras vítimas a ser perseguidas pelos cristãos naqueles dias.

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