segunda-feira, 29 de abril de 2019

"Megorashim" é o nosso nome!



Megorashim - מגורשים; "reenviados" ou "expulsos" é um termo usado para designar os judeus originários de al Andaluz que foram para o al Magrebi fugindo das perseguições anti-semitas de 1391 e à expulsão dos judeus de Espanha em 1492.

Estes migrantes forçados (megorashim-anusim), frequentemente eram de um nível socio-cultural elevado, diferenciavam-se dos judeus autóctones do al magrebi, os "tochabim", presentes no magrebi desde, segundo alguns durante a existência do 1º Templo, os quais falavam línguas locais, árabe ou berbere e pela longa convivência tinham tradições influenciadas pelo Islão do al magrebi.
Os Megorashim iriam deixar a sua marca no judaísmo do magrebi africano, impregnando-lhes tradições de al andaluz.

Com o tempo acabariam por ficarem quase fundidos com os tochabim, de tal forma que na presente época é um tanto difícil distinguir os megorachi dos toshab.

Geralmente classificam-se os judeus do magrebi como fazendo parte  de dois grandes grupos: os sefarditas, um termo que realça as raízes de al andaluz; e os mizrahim, de tradição do oriente.

Segundo a Enciclopédia Judaica, dos 165.000 judeus que abandonaram a Espanha em 1492, estima-se que 32.000 foram para as costas do magrebi; 20.000 para Marrocos e 10.000 para a Al'geria.

Fica uma lacuna(...), onde os historiadores dizem que 300.000 foram para Portugal, e depois para o novo mundo, em especial o nordeste setentrional do Brasil, onde este país nasceu primeiro.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Decreto de Expulsão do Judeus e Mauros de Portugal

Outubro de 1497

Disse D. Manuel, El Rei de Portugal:
"Que Judeus e Mouros se saiam destes Reynos, e nom morem, nem estem nelles.

Porque todo fiel Christão sobre todas as cousas he obriguado fazer aquellas que sam seruiço de Nosso Senhor, acrecentamento de sua Sancta Fee Catholica, e a estas nom soomente deuem pospoer todos os guanhos e perdas deste mundo, mas ainda as próprias vidas, o que os Reys muito mais inteiramente fazer deuem,...

.. e sam obriguados, porque per Jesu Christo nosso Senhor sam, e regem, e delle recebem neste mundo maiores merces, que outra algua pessoa, polo qual sendo Nós muito certo, que os Judeus e Mouros obstinados no ódio da Nossa Sancta Fee Catholica de Christo nosso Senhor, que por sua morte nos remio, tem cometido, e continuadamente contra 

...elle cometem grandes males, e blasfémias em estes Nossos Reynos, as quaes nom tam soomente a elles, que sam filhos de maldiçam, em quamto na dureza de seus 

...corações esteuerem, sam causa de mais condenaçam, mas ainda a muitos Christãos fazem apartar da verdadeira carreira que he a Sancta Fee Catholica; por estas, e outras mui grandes e necessarias razões, que Nos a esto mouem, que a todo Christão sam notorias e manifestas, avida madura deliberaçam com os do Nosso Conselho, e Letrados, Determinamos, e Mandamos, que da pubricaçam desta Nossa Ley, e Determinaçam atá per todo o mez d’Outubro do anno do Nacimento de Nosso Senhor de mil e quatrocentos e nouenta e sete(1497),....

...todos os judeus, e Mouros forros, que em Nossos Reynos ouuer, se saiam fóra delles, sob pena de morte natural, e perder as fazendas, pera quem os acusar. 

nE qualquer pessoa que passado o dito tempo teuer escondido alguu Judeu, ou Mouro forro, per este mesmo.feito Queremos que perca toda sua fazenda, e bens, pera quem o acusar, e 

....Roguamos, e Encomendamos, e Mandamos por nossa bençam, e sob pena de maldiçam aos Reys Nossos Socessores, que nunca em tempo algum deixem morar , nem estar em estes Nossos Reynos, e Senhorios d’elles, 

....ninhum Judeu, nem Mouro forro, por ninhua cousa, nem razam que seja, os quaes Judeus, e Mouros Leixaremos hir liuremente com todas suas fazendas, e lhe Mandaremos paguar quaesquer diuidas, que lhe em Nossos Reynos forem deuidas, e assi pera sua hida lhe Daremos todo auiamento, e despacho que comprir. 

E por quanto todas as rendas, e dereitos das Judarias, e Mourarias Temos dadas, Mandamos aas pessoas que as de Nós tem, que Nos venham requerer sobre ello, porque a Nós Praz de lhe mandar dar outro tanto, quanto as ditas Judarias, e Mourarias rendem."

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....e já estamos em abril 2019, e esperamos ainda...o retorno as nossas terras e o valor de nossos bens.

terça-feira, 23 de abril de 2019

O degredo ...alguns até hoje esperam o repatriamento!


Em Portugal, a pena do degredo era utilizada desde a Idade Média. Os condenados por algum crime podiam ser mandados para lugares mal povoados e zonas fronteiriças do País. 

Um destino muito visado era o Gharb al Andalus ( غرب الأندلس). Porém, com as "descobertas" portuguesas a partir do século 15, muitos foram condenados para serem mandados para Cabo Verde, Moçambique, Angola, Goa, Macau e para o Brasil. 

Os degredados eram "desajustados a  sociedade cristã", indesejados nas terras lusitanas, e eram exilados para possessões ultramarinas por um tempo determinado ou, em na maioria dos casos, indefinidamente... até hoje, cinco séculos depois.



A pena de degredo para o Brasil era considerada a pior penalidade que havia, apenas superada pela pena de morte, pois no imaginário dos habitantes de Portugal, por aqueles tempos, uns achavam que o Brasil uma espécie de Edem ou o próprio "gehinom" na Terra.

O degredo para o Brasil significava, além de partir para uma terra desconhecida e tida como perigosa, ter que enfrentar uma viagem oceânica torturante e a separação dos membros da família do "português". 

O medo do degredo era geral nos portugueses de segunda, tais como os mouriscos e o cristãos novos.

Povoar o Brasil na "marra" e, consequentemente, estabelecer o controle para o povo português cristão na região, foi uma tarefa muito difícil para digamos a Coroa Portuguesa. A corôa entrou com a sentença de degredo e nós entramos com nossas vidas.

Portugal tinha uma população muito pequena, e os portugueses não se atreviam a sair do conforto e se aventurar numa terra vista como perigosa.

Em virtude disso, o degredo foi usado por Portugal como uma forma de povoar a colônia.

Na carta de Pero Vaz de Caminha já havia o relato de degredados que ficaram na Terra da "Santa Cruz" logo após o descobrimento. 

Para muitos degredados ficar no Brasil, era a ultima tábua de salvação, pois no novo espaço português se mantinham longe da famigerada inquisição portuguesa.

No novo território português que nunca foi colônia, se integravam, e o povo da terra os acolhiam (aborígenes) e se uniam as suas filhas.

Nas décadas seguintes, Portugal continuou mandando degredados para a colônia chegando a mandar segundo alguns a cifra de 900.000 almas. 

A historiografia brasileira implantada nos camadas populares através de seus mestres costumam alardear que Portugal mandou para o Brasil a "escória" da sociedade portuguesa: prostitutas, assassinos, ladrões, judeus convertidos a força e e talvez alguns saloios.

E se afirma categoricamente que grande parte dos desmandos da sociedade brasileira são fruto desse tipo de povoamento que juntou portugueses "degenerados-judeus anusim", índios "imorais" e africanos "sexualizados", dando origem a uma sociedade sem moral e ética. 

Além disto ser uma afirmação falsa, esse tipo de alegação incetada de preconceitos incute na alma dos desterrados e escravizados uma baixa estima em relação a si mesmos e em relação aos seus antepassados.

Na realidade, os degredados eram pessoas que haviam sido criminalizadas e  condenadas para este fim. 

A maioria dos condenados receberam a pena de degredo  por "relatos" de terem condutas que, atualmente, seriam consideradas crimes leves ou nem ao menos seriam crime, como por pequenos furtos, promessas de casamento não cumpridas, vício em jogo, lesa-majestade, seduções, adultérios, sodomia, misticismo, "judaísmo e blasfêmias", entre outros do gênero.

Portanto, a maioria dos degredados não fazia parte da tal "escória" portuguesa, que muitos ainda acreditam que povoou o Brasil.

Tanto a Igreja como a Coroa Portuguesa acreditavam que, com o degredo era um meio de promover uma "limpeza" e  eliminar esses elementos indesejáveis da sociedade portuguesa, o degredo também foi usado como um estratagema da Coroa Portuguesa de povoar o Brasil e condutas, que hoje poderiam ser tidas como irrelevantes, eram penalizadas com o exílio.

O Portugal quinhentista não configurava uma sociedade homogênea. Ao lado da maioria cristã, havia importantes minorias muçulmanas, judaicas e ciganas.

Após a Reconquista Cristã, os mouros de Portugal já se encontravam como parte da cultura portuguesa e a sua assimilação dentro da sociedade portuguesa aconteceu sem maiores problemas.

Por outro lado, os judeus (e cristãos-novos) e os ciganos eram etnias que frequentemente foram hostilizadas e mesmo perseguidas em Portugal.

Essas duas etnias foram marginalizadas da sociedade portuguesa e muitos deles foram para o Brasil, seja de forma forçada (pelo degredo) ou voluntariamente(fuga).

Os judeus foram frequentemente hostilizados, proibidos de seguir sua religião e costumes e forçados a se converter ao cristianismo. 

Muitos deles eram acusados, por desafetos, de práticas judaizantes, ofensas à Igreja Católica e de fazer pactos demoníacos. Não era apenas a religiosidade mística, etnocêntrica e preconceituosa que levava a essa situação. Interesses econômicos também, uma vez que os judeus exerciam forte influência no comércio da Bahia e de Pernambuco. Foi apenas em 1773, por decisão pombalina, que se proibiu a distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos e no ano seguinte foi permitido o acesso de judeus e descendentes a cargos públicos e honrarias.

Os judeus chegaram à Península Ibérica antes do nascimento da divindade cristã - "Jesus Cristo" e os islâmicos a invadiram no ano de 711, deflagrando uma maciça imigração proveniente do al Magrebe, de mouros.

A América portuguesa se tornou um destino visado por esses judeus e cristãos-novos perseguidos. Se na Península Ibérica eles foram transformados em "bodes expiatórios", no Novo Mundo havia outras vítimas a ser perseguidas pelos cristãos naqueles dias.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Imaginem: Será que o messias precisará de um certificado de conversão?

Ainda não havia parado para refletir nisto, mas o caso é sério. Todos nós sabemos que há uma promessa profética que a sucá do Rei David será levantada novamente; e imagino que seja através de um descendente seu. 

Mas uma grande dúvida persiste. Esse descendente de David deveria ser de origem “materna”, pois segundo a aalakha dos rabinos; judeu é aquele filho de mãe judia, ou aquele que se converteu ao judaísmo. 

Vamos aos fatos: 

O pai de Davi era Jessé, filho do Obede, e neto de Rute a não judia e moabita. Jessé era natural de Belém, conhecido como belemita. 

Segundo o Qará o povo moabita (Gênesis 19.30-38), teve origem através de um incesto, promovido pela filha mais velha de Ló, sobrinho de Abraão, logo após a destruição de Sodoma e Gomorra. 

Depois de ser tirado de Sodoma pelos enviados, Ló não achou mais lugar para viver nas cidades, especialmente em Zoar, e foi-se para as montanhas e habitou em uma caverna. Sua filha mais velha em uma conversa com a sua irmã mais nova, disse que o pai, Ló, já era homem velho e não havia nenhum outro filho homem para dar continuidade na linhagem do pai, coisa que o povo da época, levava muito a sério. Elas embebedaram o pai e as conceberam cada uma, um filho do próprio pai. A mais velha gerou Moabe, patriarca do povo moabita e a mais nova gerou Ben-Ami, patriarca do povo de Amom, os amonitas. 

O nome Jessé é citado no Qará, em particular na passagem em Isaías 11:1-3.: “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará.” 

Como o pai de Obede era Judeu(Boaz) e a esposa dele era moabita(Rute), Obede não era judeu, e sim um moabita. 

Lembre-se; pela aalakha dos rabinos fariseus só será um judeu se a mãe for judia, ou se o cidadão tiver sido convertido ao judaísmo rabínico ortodoxo reformador da torá. 

Mas os rabinos vão levantar a objeção dizendo que Rute se converteu ao judaísmo fariseu! Ora, que massada! Não existia certificados de conversão na época de Rute nem tão pouco na época do rei Davi ou ainda muito menos existiam rabinos fariseus. 

Então aos que clamam pelo messias Ben David, sugiro que comecem a pensar um modo de financiar o estudo de dois anos e as despesas para a conversão do messias ao judaísmo dos rabinos, pois se assim não for, correremos o risco de ter um rei de Israel que não seja de entre nossos irmãos. 

Quanto aos anusim, o que infere a aalakha dos rabinos, um judeu não pode se tornar um não judeu (ou Goy), mesmo que se converta para outra religião, ou que renegue as leis do seu povo, ou que não creia mais em Deus. O judeu mesmo não praticando nada de sua crença, fé ou costumes, não deixa de ser um judeu. 

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Os Anadaluzes (sefarditas), testemunhas de mundos perdidos

Alguém poderá dizer: O degredo de Al Andaluzes israelitas para o Nordeste setentrional  e para mais longe nas profundezas do Brasil, Isso é conversa de um velho louco! 
Estariam também loucos a "reconectar" e o jornal "política exterior.com" em dizer que muitos foram deportados para o Marrocos?
Muito embora eles relatem somente o aspecto das imigrações forçadas para o Marrocos, eles atestam a expulsão e que os expulsos eram Jerusalemitas de Sefarad, os Megorashim.
Site: www.politicaexterior.com
Entrevista com Jacobo Israel Garzón.
traduzido ao português por Centro de Estudos israelitas -Al Taras

“Con un pueblo estás mal quisto
por lo que te apartas del,
otro no te juzga fiel
por lo que fingir te ha visto”
Miguel (Daniel Levi) de Barrios (1673)
Segue parte da entrevista:

Os primeiros sinais da presença judaica na Península Ibérica datam do século II[Época de Adriano]: uma inscrição em hebraico em um ossuário encontrado em Abdera (Adra, Almeria) de uma menina judia, Salomonula. Na Bíblia, a palavra Sepharad  [Al andaluz] aparece apenas uma vez, no livro de Obadias, o mais curto do Antigo Testamento. Escrito em hebraico por volta do século 6 aC C., o versículo diz: "A multidão dos deportados de Israel ocupará Canaã até Sarepta e os deportados de Jerusalém que estão em Sepharad ocuparão as cidades do Negev."

Nos reinos medievais ibéricos, os sefarditas formaram a maior comunidade judaica do mundo, famosa pela sua riqueza e refinamento e sua insistência de que suas famílias pertenciam à tribo de Judá, que veio de Jerusalém e seus sábios e rabinos descendente da casa do rei Davi.

Na chegada ao Sefarad, eles disseram, precedido o nascimento de Jesus de Nazaré, de modo que não poderia serem culpados por sua morte, uma acusação que a Igreja Católica recentemente levantou a declaração Nostra Aetate , um dos principais documentos Concílio Vaticano II.

No Marrocos , onde muitos dos judeus vítimas do decreto de expulsão de 1492 se refugiaram, sua presença não é menos antiga. Segundo algumas lendas, a primeira chegou na época de Salomão em navios fenícios do rei Hirão de Tiro que viajou pelas costas do norte da África.

Em algumas sepulturas do século IV aEC. encontrados em Ifrán são claramente letras em hebraico primitivo. No entanto, essa antiga comunidade desapareceu de um momento para outro em meados do século passado. O núcleo sefardita de Tânger, Tétouan, Casablanca, Larache e Rabat foi disperso em questão de anos entre Israel, França, Espanha, Canadá, Venezuela e Argentina.

O recém-nascido Estado de Israel recebeu os judeus marroquinos de braços abertos porque eles assumiram um valioso contingente humano para povoar as áreas fronteiriças. Hoje os 800.000 judeus de origem marroquina são os segundos do país depois da comunidade de origem russa.

Em 2014, o Knesset aprovou uma lei para comemorar a expulsão de judeus de países árabes e do Irã a cada 30 de novembro. Foi uma dívida pendente. O Dia do Refugiado judeu reivindicou uma história que afeta metade dos judeus israelenses, mas pouco conhecida pela maioria Ashkenasi, os judeus de origem européia que fundaram o Estado.

Jacobo Israel Garzón (Tetuan, 1942), autor de Escrito em Sefarad e os judeus hispano-marroquinos: 1492-1973 , e presidente da Federação das Comunidades Judaicas na Espanha, vive em Madrid desde 1959. Sua visão de toda essa longa história é privilegiado.


- PE: Como você se lembra da infância de Tetuaní? 
Eu nunca tive esse ambiente familiar novamente. Minha família estava espalhada por vários continentes. Era uma cidade de três culturas, cosmopolita e ao mesmo tempo provinciana. A vida judaica girava em torno do calendário hebraico e feriados religiosos. O olho maligno, ainará, caiu sobre aqueles que se gabavam de algo que os outros não tinham. A consanguinidade entre as famílias antigas era muito alta. Cada comunidade tinha seus espaços, mas havia vasos comunicantes. Alguns versos de Moshe Banarroch, um de nossos poetas, dizem: "Como Tetuão, como Lucena, todas as nossas pátrias se tornam exilados".


- O Dia dos Refugiados Judaicos quer resgatar este mundo perdido ... O Marrocos acolheu uma grande parte dos judeus sefarditas expulsos. Os judeus nativos os chamavam Megorashim , exilados. Nós os chamamos de toshabim (da terra). Entre os séculos XVI e XVIII, os cripto-judeus (anusim , forçados) nunca deixaram de chegar da Espanha e de Portugal , que, após gerações de vida dupla, retornaram ao judaísmo no Marrocos. Nós nunca tivemos uma situação idílica. Em 1767, Jorge Juan escreveu que os judeus de Tetuani exerciam os negócios mais servis. Ao longo do século XIX, houve superlotação no bairro judeu.

- Como eles poderiam preservar sua identidade judaico-espanhola? 
A maioria dos judeus expulsos, exceto os de Aragão e das Ilhas Baleares e Navarra, que foram para a Itália e o Império Otomano, foi diretamente para o Marrocos e se concentrou no norte. Seus aljamas mantiveram sua própria língua, a jaquetía, que ainda dura. Algumas normas litúrgicas da congregação sefardita Kajal kadosh , como aquelas que governavam a Ketuba (contratos nupciais), vieram das ordenanças castelhanas medievais.

- Por que eles saíram depois da guerra? 
Houve várias razões, algumas circunstanciais e outras não. O messianismo do retorno a Eretz Israel sempre esteve profundamente enraizado entre todos os judeus marroquinos. Os exilados de Sefarad deixaram tudo para não perder sua identidade judaica. Todos esperavam que um salvador, um goel, nos levasse para a terra prometida. Também pesamos a memória histórica da discriminação sofrida pelos dhimmis, os não-muçulmanos, e que existiam até a criação dos protetorados franceses e espanhóis. Os árabes não tinham muitos direitos, mas os judeus ainda menos.

- A coexistência tornou-se insustentável? 
Os judeus eram favoráveis ​​à ocidentalização. A Alliance Israelite Universelle foi fundada em 1862 em Tetouan. Ao mesmo tempo, a descolonização trouxe consigo a arabização simultânea dos muçulmanos marroquinos. A recém criada Liga Árabe semeou o rancor contra as comunidades judaicas do Magrebe. Houve atos de violência contra nossos negócios e residências. O governo considerou traidores que queriam ir para Israel.


Azoulay é tão poderoso quanto eles dizem? 
Azoulay pertence a uma família de comerciantes e cortesãos que obtiveram licenças de importação e exportação concedidas pelos Majzén, controlando assim a atividade portuária. Seus links internacionais foram muito úteis. Mas essas famílias eram uma pequena elite. Azoulay pode ser uma ponte, um link. O desprezo não pode ser eterno. Eu espero


Como foi a integração dos judeus marroquinos em Israel? 
Em Israel tem havido uma espécie de má consciência com Mizrahim, judeus que vieram de países árabes e um duplo padrão por causa de seu prestígio cultural inferior foi aplicado, de modo que foi enviado para áreas deprimidas. Os judeus sefarditas eram apenas 10%. Muitos judeus marroquinos fizeram carreiras notáveis ​​em Israel. Shlomo ben Ami é um deles. E ele não é o único.


- Israel às vezes é confundido com os sefarditas e os mizrahis.Os ashkenashes
não fazem muita diferença por causa de uma questão litúrgica. No judaísmo há algo chamado rito sefardita, que para os ashkenasim é tudo o que não pertence à sua tradição. Os sefarditas de Marrocos têm até características que nos distinguem do mundo otomano sefardita.


- O regime de Franco ajudou-os a emigrar para Israel ...
O exército colonial espanhol tinha um grande aliado nos hebreus. Nós éramos muito pró-espanhóis. Muitos de nós ainda tinham nacionalidade espanhola. Os militares espanhóis não eram especialmente antissemitas, embora os franquistas comandassem os centros judaicos. Depois do fim do protetorado, eles se sentiram culpados por nos terem abandonado. É por isso que nos anos cinquenta tivemos muitas facilidades para vir para a Espanha. Muitos nós fizemos.


- Sepharad foi reconstituído? 
As primeiras famílias sefarditas marroquinas chegaram a Sevilha por volta de 1880, onde formaram a primeira comunidade judaica na Espanha após a expulsão. Seu cemitério data do último terço do século XIX. Em Ceuta e Melilla, havia comunidades estabelecidas desde 1864. As primeiras sinagogas foram abertas em Sevilha em 1914, em Madri em 1916 e em Barcelona em 1918. Franco as proibiu. Os judeus podiam viver individualmente, não coletivamente. Até 1967, não tínhamos vida como comunidade organizada, embora existíssemos.


- Qual é a composição atual? 
Quase metade de nós vem da zona do protetorado. O latino-americano ashkenasim-argentino, chileno, uruguaio chegou nos anos setenta fugindo das ditaduras. Os restantes 20% são de origens variadas.




- Eles não são muito visíveis em comparação com os judeus dos países da América Latina ...Estamos entre 40.000 e 45.000 e a nossa visibilidade é escassa porque não falamos outra língua. Até você dizer isso, ninguém sabe que você é judeu. Mas é verdade, não temos figuras como Pierre Moscovici ou Bernard Henry-Levy na França. Acho que preferimos a economia e os negócios.

- Qual é o relacionamento com Israel? 
Somos espanhóis e judeus, não israelenses, mas apoiamos Israel, não o governo, mas o Estado. Toda a Páscoa dizemos "no ano que vem em Jerusalém", mas acho que a nacionalidade tem que ser para os israelenses, aqueles que vivem lá, aqueles que pagam seus impostos e aqueles que fazem o serviço militar.

- Na França há surtos de anti-semitismo, você os percebe na Espanha? 
Sim, sem dúvida. Existem dois tipos. Um vem do sistema inquisitorial. No final do século XIX, Menéndez Pelayo escreveu que a Inquisição era "filha do espírito genuíno do povo espanhol". Algo disso permaneceu em setores da extrema direita e entre certos católicos fundamentalistas. As exigências da Inquisição que tenho visto são uma aberração. Outro tipo é mais moderno e vem do anti-sionismo.


- Às vezes eles ficam confusos? 
Assim é. O conflito no Oriente Médio polarizou muito a situação. Mas não se deve questionar o direito de Israel de existir como alguns o fazem. Não é lícito demonizar um Estado.

- A sobrevivência do judaísmo e do povo judeu é misteriosa ... 
Tikkun olam , um mitzvot (preceito), significa "reparar o mundo". A Kabbalah diz que na criação o Universo não pôde conter a luz sagrada e quebrou. É por isso que precisa de reparação e quando cumprimos as mitzvot participamos dela. Gershom Scholem disse que o judaísmo consiste em paradoxos e contradições e é por isso que não tem uma essência dogmática. O judaísmo é o que os judeus fazem. Talvez isso nos justifique.


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